Conteúdo em áudio: o futuro do nosso consumo.
O consumo de áudio digital aumentou durante o isolamento social promovido pela Covid-19 e acelerou algumas mudanças de comportamento dos consumidores em relação a publicidade e o conteúdo. A linguagem radiofônica, limitada anteriormente ao rádio tradicional, promove hibridizações perante os avanços tecnológicos e faz surgir novidades e ressurgir velhos conhecidos do público brasileiro. Uma alternativa ao vídeo, podcasts, audiolivros e streaming de músicas são alguns dos conteúdos mais consumidos atualmente, diante da comodidade e praticidade no acesso. A possibilidade de alcançar novos públicos abre caminhos para entrelaçar audiência e marcas, construindo uma relação entre elas por meio da publicidade. E tendência é que estejamos cada vez mais conectados por meio do áudio para nos comunicarmos e o futuro pode estar mais próximo do que parece. 
Já ouviu falar na rede social que está bombando nas últimas semanas, onde a busca pelo app no Google saltaram 4.900% em apenas uma semana? O Clubhouse[1], exclusivo para iPhones e limitada a pessoas com convite é baseada na troca de conteúdos exclusivos em áudio em diversas salas de bate-papo e queridinho de diversas personalidades. Elon Musk, Caetano Veloso e até a apresentadora Oprah Winfrey são alguns dos famosos presentes na rede social. Funciona mais ou menos assim, os ambientes, definidos por temas, permite espaços para se debater sobre variados assuntos. 
E a novidade veio para ficar? Há grandes chances se considerarmos o notável e crescente aumento de conteúdo em áudio no mundo e como as novas tecnologias têm apelado para o controle de voz. 
Para se ter uma ideia, 20% dos consumidores nos Estados Unidos já utilizaram algum dispostivo controlado por voz para a realização de alguma compra, como o Amazon Echo ou Google Assistant, segundo o estudo Future of Retail 2017, da agência de marketing Walker Sands. É estimado que até o ano que vem, o valor das transações estão em torno dos US$ 40 bilhões, de acordo com uma pesquisa da OC&C Strategy Consultants.
Um bom termômetro para ficarmos de olho, é o fato de Mark Zuckerberg (ele mesmo, dono e proprietário de empresas como Facebook, Instagram e WhatsApp) estar interessado na plataforma Clubhouse e segundo o The New York Times, já solicitou a criação de um produto similar a rede social de áudio, de forma similar às funcionalidades anteriormente retiradas de redes sociais concorrentes como Snapchat e Tik Tok.
Ainda que os materiais em texto sejam uma das formas mais relevantes para a transmissão de informação na internet, o conteúdo em áudio vem ganhando espaço, conquistando uma audiência que preferem escutar enquanto consome algum tipo de conteúdo. 
São podcasts, posts narrados, streaming de músicas, audiobooks e narrativas gráficas sob uma nova perspectiva de consumo que caminha ao redor da nossa própria ressignificação do tempo.

Rádio? Isso ainda existe?

Mas não se engane, apesar dessa crescente no ambiente digital, os conteúdos em áudio sempre fizeram parte da nossa vida. Das histórias contadas pelas nossas avós, e ensinamentos passados de geração a geração, durante toda a história do homem, a linguagem verbal sempre foi a principal forma de comunicação entre as pessoas.
O rádio, por exemplo, foi o primeiro meio de comunicação de massa a surgir no século XX e suas emissores, muito populares durante décadas e que até os dias atuais, ainda possuem uma audiência fiel e relevante. Não acredita? Então vamos a alguns dados! 
Segundo a Kantar Ibope[2], com seu estudo Inside Radio 2019, o rádio alcança diariamente nada menos que 83% dos brasileiros e o consumo médio é de 4h33. 
É relevante ou não? E o meio tem seus aficionados! Para Melissa Voguel, CEO da Kantar Ibope "O áudio é uma das primeiras coisas que experimentamos na vida, quando ainda estamos no ventre de nossas mães. Em um mundo cada vez mais tecnológico e influenciado por algoritmos, o áudio mantém a capacidade de nos humanizar e é importante entender isso para explorá-lo e valorizá-lo. E é no áudio que o rádio vive e se recria todos os dias”. 
E não só isso, o rádio atinge mais jovens que entre os mais velhos, tendo certa predileção pelas músicas, notícias e esportes, conteúdos que informam ao mesmo tempo que engajam!

O segredo do sucesso

E qual é o segredo deste conteúdo? A sua facilidade de consumo! São conteúdos passíveis, que não demandam a completa atenção da sua audiência e que permitem a sua mobilidade. Você pode ouvir um podcast, um livro ou até mesmo uma história em quadrinhos, enquanto caminha, faz suas atividades físicas ou enquanto lava uma louça. 
Para se ter uma ideia, 79% dos ouvintes que consomem podcasts enquanto você lê essa postagem, estão se deslocando e 68% realizando tarefas domésticas, enquanto 46% se exercita.
E a outra palavrinha-chave? São envolventes. Bingo! Nos envolvemos com histórias, músicas e discussões enquanto realizamos outras atividades, interagindo com este conteúdo em áudio e tornando-o parte da nossa rotina. Já reclamou da sua falta de tempo para sentar, se concentrar e ler um livro? Você não está só! A chamada aceleração social moderna tem diminuído cada vez mais o nosso tempo. Por meio dos avanços tecnológicos, conquistamos uma considerável economia de tempo, seja no transporte, comunicação e até mesmo a produção.

Comodidade e Facilidade

Mas aí vêm o grande paradoxo, nossa sociedade se tornou mais acelerada, bem mais acelerada. Um movimento potencializado pelo dinamismo do nosso tempo. De repente vemos surgir uma produção em tempo real, onde não existem mais distanciamentos físicos  nas comunicações e muita informação para ser consumida. 
No fim das contas, existe uma sensação generalizada de que nunca conseguimos fazer tudo o que queremos. Não conseguimos fazer todos os cursos suficientes, lermos os livros que queremos, ou até mesmo nos atualizarmos nessa incessante produção de conteúdo.  “A tecnologia e a internet provocaram uma revolução na troca e na quantidade de informações”, diz o jornalista James Gleick, autor de Acelerado, livro que debate causas e efeitos da velocidade. “Uma coisa acelera a outra e nos vemos num círculo vicioso aparentemente inquebrável: a  tecnologia gera demanda por velocidade, que empurra o desenvolvimento de novas tecnologias que precisam ser mais rápidas”. Sentiu o drama?
É por isso que os conteúdos em áudio apostam em algumas vantagens que entregam ao usuário: comodidade, acessibilidade e facilidade. E claro, a nossa já conhecida relação com a oralidade e a facilitada retenção de informação por meio dos estímulos auditivos.
E os produtores de conteúdo e grandes players do mercado não só perceberam, como saíram na frente. Empresas como Marvel, Apple, Amazon e Rede Globo[3] têm explorado a sério o podcast, transformando a mídia em um potencial ecossistema para a arrecadação de mídia por meio de anúncios.
Avanços tecnológicos permitiram que nos tornássemos produtos de conteúdo em potencial. Hoje em dia, qualquer pessoa de posse de um aparelho conectado a internet pode produzir diversos conteúdos texturas e audiovisuais. E quais conteúdos em áudio eu posso e consigo produzir?

Quais conteúdos eu consigo produzir?

O post narrado (ou em áudio) são blogposts com versão em áudio. Sabe aquele link interessante que você abriu, mas no meio de outra atividade não conseguiu consumi-lo e adicionou na sua  lista infinita de leitura? Nesse tipo de conteúdo, uma versão narrada é disponibilizada para que o usuário consiga acessá-lo da forma que preferir.
O podcast é a nova coqueluche do momento (e sobre ele, nos debruçaremos mais adiante), e para se ter uma ideia, o Brasil é hoje é o segundo maior mercado do mundo para podcasts, atrás apenas dos Estados Unidos, informa a Podcasts Stats Soundbite. São programas de áudio sob demanda (ou seja, você escuta quando quiser), onde se é possível consumir informações sobre política, entretenimento, esporte, debates e narrativas ficcionais.
Os audiobooks também têm ganhado espaço no Brasil, com um aumento de catálogos e adesão por parte do público. Basicamente, são livros para ouvir, narrados em voz alta para que as pessoas, ao invés de lerem livros, os escutem.  Não se trata necessariamente de uma novidade (alguém aí se recorda da bíblia em áudio por Cid Moreira na década de 90?). Não? Deve ser porque os audiolivros têm encontrado bastante adesão dos millenials e da geração Z, já habituados ao consumo de áudio digital.
E claro, não podemos nos esquecer dos streaming de música. Plataformas como Spotify, Dezzer e Apple Music potencializou o nosso acesso à catálogos de nossos artistas preferidos, sob demanda e por meio de iniciativas freemium (já ouviu falar sobre esse termo? Se trata de um modelo de negócio em que um produto ou serviço é ofertado gratuitamente, mas a cobrança permite aos usuários um acesso premium, com recursos adicionais). São algoritmos por trás da plataforma, indicando conteúdos personalizados na medida em que recolhe dados sobre o usuário a fim de monetizar o serviço.

E a publicidade no meio de tudo isso?

O áudio digital já é uma das grandes apostas da publicidade digital brasileira. São nada menos do que quase 10h45 de áudio digital sendo consumido semanalmente pelo brasileiro[4]. São conteúdos, como o próprio podcast, que permitem a presença de uma audiência, logo, um espaço de mídia programática a ser adquirido e também de assistentes pessoais comandados por áudio (e porque não, potenciais espaços de mídia) de players conhecidos como Amazon e Google.
Pete Erickson, fundador do Voice Summit, principal evento do mercado que aborda voz, áudio e inteligência artificial, destacou o crescimento do mercado de assistentes de voz: os usuários de assistente de voz no celular somam 166 milhões, em carros 129 milhões e assistentes de áudio para casa com 87 milhões de usuários no mundo. Ok, Google?
É importante também levarmos em consideração o fato de que a Covid-19 e o isolamento social promovido desde o ano passado, talvez esteja fazendo o futuro chegar mais rápido. A audio.ad, em parceria com a Brandwatch[5] realizou uma pesquisa sobre o consumo de áudio digital durante a quarentena para entender o comportamento destes ouvintes com o conteúdo e também com a publicidade. A pandemia acelerou o mercado dos anúncios em áudio digital, muito por conta do grande aumento do consumo de podcasts  e streaming de músicas.
E mais,  quase 91% deste público, crêem que a publicidade digital  é tão ou mais importante do que antes da pandemia, ao mesmo tempo em que esperam posicionamentos assertivos das marcas. Logo, faz surgir também espaços para que as marcas conversem com a sua audiência de forma mais personalizada. Com segmentação de audiência e atribuição programática, os anunciantes conseguem rastrear o impacto da mídia em áudio.

E o futuro?

Se hoje o investimento em publicidade digital representa cerca de 30% da verba total de publicidade Brasil, a perspectiva é que deve alcançar 50% em 2023, como já acontece em outros mercados, onde o investimento no digital já superou a mídia tradicional. Na esteira, os formatos que mais crescerão em investimento, são os podcasts, seguidos por vídeos online e eSports. Conforme os avanços tecnológicos de novos dispositivos smarts, que se utiliza da inteligência artificial para se comunicar  com os usuários e auxiliá-los nas tarefas diárias, é de se imaginar que o consumo de conteúdos em áudio siga a tendência de aumento e relevância na sociedade. Lembrem-se, é uma mídia que não interfere na experiência do usuário, ao mesmo tempo que é muito imersiva e envolvente, criando conexão emocional e interação.​​​​​​​
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